do Universo Estilo
A mitologia grega é um bom parâmetro para mostrar o quanto a juventude e a beleza são cobiçadas desde a antiguidade. É só se mirar no aspecto físico dos deuses. Invariavelmente, são seres belos e jovens. Isso mostra como esses atributos eram e continuam sendo valorizados tanto no plano divino quanto no humano.
Cristina Rodrigues Franciscato, doutora em literatura grega antiga, conta que houve um tempo em que homens e deuses não se distinguiam enquanto raça. Quando ocorreu a separação, a beleza e a juventude eterna passaram a ser prerrogativas exclusivas dos deuses. Desde então, a velhice e a morte são temas centrais e problemáticos da existência humana. “Somos seres mortais e efêmeros que anseiam e sonham com a imortalidade”, diz Cristina.
“Somos seres marcados por essa dor, que é a consciência da nossa efemeridade, de que somos mortais. E antes de morrermos, envelheceremos. Essa é a ferida incurável da nossa espécie”, relata. Segundo ela, lutar contra isso é lutar em vão. “Nos resta envelhecer da melhor forma possível”, aconselha.
Se o ser humano foge dessa realidade por meio de atitudes radicais, ele corre o risco de se tornar uma caricatura dele mesmo. A fixação pela eterna juventude pode expor as pessoas ao ridículo. Segundo Cristina, “essa é uma luta inglória”.
No entanto, ela lembra que atualmente a ciência, a tecnologia, os hábitos de vida, têm permitido à raça humana prolongar um pouco mais a aparência da juventude. Basta saber desfrutar dessa conquista e viver intensamente.
A psicóloga Gislaine Aude Fantini, que há 16 anos trabalha com idosos, diz que o envelhecimento é algo que assusta as pessoas e muitos preferem ignorar e simplesmente não aceitam a realidade. Ela conta que a resistência vem diminuindo ao longo dos anos, mas ainda é grande.
O acesso a informação, na opinião dela, tem sido um dos grandes responsáveis pela mudança de mentalidade entre os membros da terceira idade. Segundo a psicóloga, eles estão vendo que é possível envelhecer sem abrir mão das coisas boas que a vida oferece. E o efeito psicológico disso é extremamente positivo. “Se a pessoa está em busca do conhecimento, se ela se envolve com as mais diferentes atividades não dá tempo de ficar pensando que está ficando velha”, frisa.
Assim, Heloisa Maria Segalla Bevilacqua, 61 anos, é um exemplo a ser seguido. Justamente quando chegou à terceira idade, parece ter desabrochado para a vida. Enquanto jovem, costumava ficar sentada enquanto o marido dançava a noite toda. “Eu gostava de dançar, mas ficava muito retraída”, conta ela.
O cenário, agora, é outro. Heloisa aprendeu a dançar e não apenas no salão. Ela foi também para o palco e passou a se apresentar para grandes plateias. E ela faz isso não por exibicionismo, mas por ela mesma. “Eu danço para mim mesma. É um prazer pessoal”, revela.
O próximo passo, segundo ela, deverá ser o teatro. “Com tudo isso, eu me sinto viva. Não tenho tempo para ficar pensando que estou ficando velha”, diz. As amizades que se criam e a troca de conhecimento são apontados por ela como as grandes conquistas que essas atividades proporcionam.
“A velhice chega para todo mundo. O segredo é saber viver intensamente mesmo nessa fase da vida”, comenta.
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